domingo, 23 de maio de 2010

# 2 = crítica musical

Levi Nauter



Quando falo em crítica, não deve ser subentendido no meu texto a falácia da crítica construtiva e da negativa (ou desconstrutiva). Ou seja, não acredito nessa acepção. Crítica é crítica. Equivale dizer, então, que o ser construtivo ou negativo depende única e exclusivamente do criticado ou da criticada.
Soa-me como uma 'média' o que o crítico faz com quem ou o que vai criticar, ao dizer “quero fazer uma crítica, mas ela é construtiva”. Na minha singela opinião, o crítico sai perdendo quando dialoga assim, com medo. Minha leitura disso é a seguinte: “olha, fulano, eu queria dizer uma coisa mas não gostaria que você chorasse, tá? È pro teu bem!”. Ora, poupe-me, isso é qualquer coisa que não crítica.
Por outro lado, não se pode esquecer dos críticos deslumbrados, nem dos superficiais.  Aqueles acham tudo bom (a capa, a fonte usada no encarte, o tempo de duração da canção, ...); perdem na crítica porque têm muito apreço pelo que está sendo criticado – usa o espaço da observação apenas para tecer elogios. É inútil lê-los  pois não há nada senão consenso com o produto da crítica. Os superficiais criticam apenas aquilo de que não carece 'tempo'. Acham a foto da capa meio feia; a fonte pequena; ou consideram a canção (por vezes o disco) longa ou curta demais. Superficialidades e superfluidades.
O que é, pois, no meu entender, criticar? É, em primeiro lugar, um ato subjetivo. Vem de um sujeito. E bem nos lembra um grupo infantil1: “um sujeito que se sujeita, ainda é objeto”. Quer dizer, a crítica sempre vem, pelo menos em tese, de um indivíduo insurgente – insurgência que o torna sujeito.
Criticar é, sim, dar uma opinião pessoal. E isso não acontece com seres acríticos. Opa, chegamos noutra instância: o crítico deve ter boa cosmovisão do assunto a ser tratado. Boa nada tem a ver com seguir a maioria, senão em ter boa fundamentação. Nesse raciocínio podemos dizer que  - embora as diferentes formas de se pensar, que devem ser respeitadas – um crítico tem de ter um cabedal teórico para o 'bem' e/ou para o 'mal'.
Não se tem ideologia, cosmovisão e cultura do nada. Chega-se num lugar sempre partindo de outro. Assim se produz conhecimento, avançando (pra frente ou pra trás). Para bem entendermos um crítico haveremos de saber sobre sua cosmovisão, seus gostos, suas preferências; mas também suas fontes teóricas, seus referenciais artísticos, seu pensamento em relação ao status quo. Cabe aqui também sabermos do seu nível de leitura (o que lê, quando lê, com qual frequência o faz, para que/para quem faz...).
O crítico deve apresentar, a meu ver, pelo menos dois elementos palpáveis que o influenciaram a dizer da bondade ou ruindade de um produto. Não pode ser a subjetividade razão para tanta superficialidade crítica. É verdade que, em virtude de ser uma opinião pessoal, ele pode não ter coro no mesmo tema. Aí entra tanto o respeito como – e sobretudo – os princípios da liberdade e do bom senso.
Se eu tivesse que sintetizar crítica, diria que é a arte do convencimento.






1Palavra Cantada, liderado por Sandra Peres e Luiz Tatit. Estes são autores da maravilhosa música Gramatica. Com participação mais que especial do Wisnik, a letra, além de minuciosamente escolha de palavras, nos remete a uma reflexão bem importante. A revista Língua fez uma reportagem bem legal sobre isso. Nela há uma análise da letra que me refiro. Acesse revistalingua.uol.com.br/ObraAberta/Obra_aberta41.pdf .

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