Levi Nauter
Quis muito postar comentários sobre CDs que venho curtindo. Costumo ouvir um trabalho semanal, alternando, de quando em quando, alguma música específica que esteja como que me ‘chamando’ à audição. No entanto, fiz uma exigência a mim mesmo: nada seria comentado antes do trabalho que serviu de cortina musical para os meus encontros amorosos. Pelo impacto causado a mim e a minha mulher, pareceu-me justo e cerimonioso iniciar com quem me ajudou a beijar a mulher com quem casei mais tarde. Comecei bem, com um inglês.
A seguir, pago a dívida comigo mesmo e inicio comentários de CDs ou artistas.
Era uma tarde de sábado, estávamos na casa de amigo. Lá nos reuníamos para tomar café da tarde, ouvir música, assistir a jogos de futebol e falarmos a respeito daquelas meninas que chamavam a nossa atenção. Mas essa tarde era diferente. Elas estavam presentes também. Eu particularmente estava eufórico. Na sala estava uma menina que me despertava; queria tanto aquela mulher. Tinha uma voz linda, uns olhos verdes que pareciam saltar aos meus olhos. Ademais, já havíamos feito até peças teatrais juntos na igreja que frequentávamos.
O papo estava ótimo. Enquanto conversávamos e riamos juntos, rolava o excelente vinil do trio Wilson Philips – de 1990. Mas nada se compararia quando começasse o som daquele inglês que eu pouco sabia de sua obra. A agulha indicava o fim do trio e a hora de trocar por outro vinil. Colocamos, então, o trabalho que mais rodava nas rádios naquele ano. Listen Without Prejudice continha ( e ainda hoje é assim) uma apologia à liberdade. Freedom estava estourada nas rádios. E para mim George Michael tinha a voz que eu gostaria de ter. Seus arranjos vocais e seus backing vocals me fascinavam, parecia-me que não tinha aquela quase obviedade americana. E isso me parecia evidente frente ao silêncio que se fazia na casa enquanto ouvíamos They won’t go when I go.
Mas o que eu queria mesmo era dar um beijo naquela menina. Naquele mulherão ao meu lado. Mais uma música cujos vocais arrasavam. E eu mais perto do beijo. Provavelmente porque ela cantava também fomos como que ficando apaixonados. E a nossa música de inspiração para o beijo vinha chegando.
O piano começou a tocar melancolicamente, a bateria jazzisticamente ia dando o swing e estava no ar Cowboys and angels . Que beijo! Um perfume parecia exalar pela casa. Sei lá se meu amigo beijou a menina pela qual ele estava apaixonado. Eu estava em festa.
A festa foi tão boa que estamos casados até hoje. Ainda lembro com nitidez a frase da minha moreninha ao ouvir que eu queria namorá-la: ‘não custa tentar’. Uns dezoito anos já se passaram. E outro dia passávamos num balaio promocional de CDs e vimos o tal álbum. Agora remasterizado, ainda conserva a mesma capa preta com aquela foto festiva na frente. Olhamo-nos, eu e a Lu, e sem pestanejar o adquirimos. E é um dos que mais ouvimos aqui em casa.
NOTA
Digitado ao som do próprio CD em destaque.