sexta-feira, 29 de outubro de 2010

música de verdade - 1

Levi Nauter

Não há nada mais emocionante, fascinante, renovador e esperançoso do que ouvir música de verdade. A composição é feita por gente que costuma pensar e não simplesmente despejar o que bem dá na telha. E o cantor ou cantora se entrega totalmente à interpretação. Bah!!!
É o caso dessa cantora. 






domingo, 23 de maio de 2010

# 2 = crítica musical

Levi Nauter



Quando falo em crítica, não deve ser subentendido no meu texto a falácia da crítica construtiva e da negativa (ou desconstrutiva). Ou seja, não acredito nessa acepção. Crítica é crítica. Equivale dizer, então, que o ser construtivo ou negativo depende única e exclusivamente do criticado ou da criticada.
Soa-me como uma 'média' o que o crítico faz com quem ou o que vai criticar, ao dizer “quero fazer uma crítica, mas ela é construtiva”. Na minha singela opinião, o crítico sai perdendo quando dialoga assim, com medo. Minha leitura disso é a seguinte: “olha, fulano, eu queria dizer uma coisa mas não gostaria que você chorasse, tá? È pro teu bem!”. Ora, poupe-me, isso é qualquer coisa que não crítica.
Por outro lado, não se pode esquecer dos críticos deslumbrados, nem dos superficiais.  Aqueles acham tudo bom (a capa, a fonte usada no encarte, o tempo de duração da canção, ...); perdem na crítica porque têm muito apreço pelo que está sendo criticado – usa o espaço da observação apenas para tecer elogios. É inútil lê-los  pois não há nada senão consenso com o produto da crítica. Os superficiais criticam apenas aquilo de que não carece 'tempo'. Acham a foto da capa meio feia; a fonte pequena; ou consideram a canção (por vezes o disco) longa ou curta demais. Superficialidades e superfluidades.
O que é, pois, no meu entender, criticar? É, em primeiro lugar, um ato subjetivo. Vem de um sujeito. E bem nos lembra um grupo infantil1: “um sujeito que se sujeita, ainda é objeto”. Quer dizer, a crítica sempre vem, pelo menos em tese, de um indivíduo insurgente – insurgência que o torna sujeito.
Criticar é, sim, dar uma opinião pessoal. E isso não acontece com seres acríticos. Opa, chegamos noutra instância: o crítico deve ter boa cosmovisão do assunto a ser tratado. Boa nada tem a ver com seguir a maioria, senão em ter boa fundamentação. Nesse raciocínio podemos dizer que  - embora as diferentes formas de se pensar, que devem ser respeitadas – um crítico tem de ter um cabedal teórico para o 'bem' e/ou para o 'mal'.
Não se tem ideologia, cosmovisão e cultura do nada. Chega-se num lugar sempre partindo de outro. Assim se produz conhecimento, avançando (pra frente ou pra trás). Para bem entendermos um crítico haveremos de saber sobre sua cosmovisão, seus gostos, suas preferências; mas também suas fontes teóricas, seus referenciais artísticos, seu pensamento em relação ao status quo. Cabe aqui também sabermos do seu nível de leitura (o que lê, quando lê, com qual frequência o faz, para que/para quem faz...).
O crítico deve apresentar, a meu ver, pelo menos dois elementos palpáveis que o influenciaram a dizer da bondade ou ruindade de um produto. Não pode ser a subjetividade razão para tanta superficialidade crítica. É verdade que, em virtude de ser uma opinião pessoal, ele pode não ter coro no mesmo tema. Aí entra tanto o respeito como – e sobretudo – os princípios da liberdade e do bom senso.
Se eu tivesse que sintetizar crítica, diria que é a arte do convencimento.






1Palavra Cantada, liderado por Sandra Peres e Luiz Tatit. Estes são autores da maravilhosa música Gramatica. Com participação mais que especial do Wisnik, a letra, além de minuciosamente escolha de palavras, nos remete a uma reflexão bem importante. A revista Língua fez uma reportagem bem legal sobre isso. Nela há uma análise da letra que me refiro. Acesse revistalingua.uol.com.br/ObraAberta/Obra_aberta41.pdf .

sábado, 15 de maio de 2010

# 1 = música e (é) arte



Levi Nauter

Com este texto dou início a uma série de pensamentos e reflexões que intentam refletir sobre a música como uma arte abrangente. Ao mesmo tempo, e isso é inevitável, estará descortinando minha opinião sobre música, bem como meu gosto por essa arte milenar.
Absolutamente todos os trabalhos e/ou artistas a respeito dos quais falarei, o farei restringindo-me ao aspecto artístico-musical. Se eventualmente eu falar de alguma especificidade (a indumentária, a maquiagem ou aspectos afins) buscarei demonstrar o prejuízo – ou não – para o resultado final da obra (ou peça) em análise. Eu não tenho nenhum interesse pessoal com nenhum artista; não pertenço a nenhuma entidade artística, muito menos ganho algum valor econômico com meus comentários, com as minhas reflexões.
Vou dar um exemplo prático. Há um excelente compositor, bom instrumentista, que bem sabe escolher suas canções, os CDs possuem qualidade sonora. Estou falando, artisticamente, de Jorge Vercilo. No entanto, sua voz é horrível – não mescla agressividade com sensibilidade. É uníssona, apenas cumpre bem o papel. No meio evangélico, lembro-me – agora – de uma cantora chamada Eyshila. Boa distribuição de seus produtos, grande poder de penetração na mídia evangélica, boa qualidade instrumental e, pra mim, só. Penso que sua voz é mal aproveitada; há um excesso do que eu chamaria de 'dengosura', muita 'melosidade' e uma voz que me soa como insegura, sem poder agressivo (agressivo em termos musicais, entenda-se bem). Além disso, seu repertório me parece ainda mais estragadio, com rimas pobres. Com todo o respeito que eles merecem, a seus sucessos eu atribuiria muito mais à repetição midiática que ao talento ou dom (como preferem os que espiritualizam tudo).
Haverá momentos em que vou tratar assim os músicos: com bastante crítica. Alguns compositores poderão sofrer a mesma crítica, bem como os músicos instrumentistas. Sim, porque para mim existem “músicos-instrumentistas” e “músicos-vocalistas”.
Não haverá acepção de crença. Ou seja, comentarei cristão e não-cristãos. Eu sou cristão (evangélico; não pentecostal), mas a música é uma arte – não conhece religião. Em geral, os cristãos amam  cantar o próprio umbigo, algo que Cristo não faria. As músicas midiáticas do mundo gospel estão aí para provar que os fiéis buscam a elevação do moral, precisam de músicas utilitárias (noutro post melhor explico). Serei crítico ferrenho dessa coisificação de Deus.
Acontece que para o enlevo da minha fé, da minha crença, para a minha aproximação maior com/e em Deus a música é apenas um dos meios; há outros – quiçá a oração seja bem mais forte. Ademais, minha crença não pode ser abalada, por exemplo, porque ouvi os afro-sambas do Baden. Do contrário, minha fé estará mais para lá do que para cá.
Então, fica minha primeira definição do que penso sobre Deus e música. Ele se esconde em todos os lugares (salmos 139). Quando ouvimos (e não só escutamos) uma música, Deus está lá acenando-nos. Ele não depende de cantores midiáticos, nem do próprio rebanho proclamador. Deus, pelo menos O que eu sirvo, transcende a tudo e a todos.
Portanto, vejo-O tanto na música cristã quanto na dita 'música do mundo', a não cristã. É disso que tratará este blog: da arte musical. Esta, com as devidas ressalvas, está muitos e muitos anos a frente da chamada música gospel.